Um poema - por Ninguém
29/05/2020
Segundo movimento poemático a compor o livro inédito Rua. Recomenda-se ler em companhia de João Cabral de Melo Neto
(https://www.escritas.org/pt/t/11508/tecendo-a-manha
SOZINHO UM RATO COSTURA
a futura madrugada
sombra que atravessa a rua
aura turva embriagada
desliza invisível linha
que some por um buraco
por onde outro ou o mesmo rato
broca outra rua e caminha
ressurge de oposta furna
pequena agulha obstinada
fura monturo, conspurca
a urna das mortes diárias
e a lua escura nem vê
que um rato desfia a rua
enquanto urde a madrugada
- que um galo vai descoser
à primeira clarinada