Um poema - por Ninguém
A rua segue noturna com um enigma.
É NOITE E ALGUÉM VEM PELA RUA.
é noite. mas resta a rua iluminada.
poste a poste, as lâmpadas
(a que chamam sensíveis)
se acenderam ante a sombra que avançava.
agora a luz encadeada
é uma alameda abstrata,
invisível no excesso do ser visto,
corpo contínuo, avesso do nada.
e eis que o caminhante nem atina o caminho.
não atina o caminho e no entanto caminha.
cada passo esquece o antigo
esquecido que já está do próximo.
das luminárias halos canonizam
intermitente um santo ocasional
- estações de uma paixão inlúcida,
mente santa, corpo em vão.
vai um corpo por bolhas de luz capturado.
em ponte de lume vai deste pra um outro lado.
e quase cai em si quando cai num buraco
que a escuridão escavou.
encravada na luz a treva
de uma lâmpada que se apagou,
o caminhante pressente o caminho
que desde sempre o caminhou:
por cima, ao redor, dentro:
a imensa invisível noite
que habitava o viajor.