Um poema - por Ninguém

02/10/2020

A rua segue noturna com um enigma.


É NOITE E ALGUÉM VEM PELA RUA.

é noite. mas resta a rua iluminada.

poste a poste, as lâmpadas

(a que chamam sensíveis)

se acenderam ante a sombra que avançava.

agora a luz encadeada

é uma alameda abstrata,

invisível no excesso do ser visto,

corpo contínuo, avesso do nada.

e eis que o caminhante nem atina o caminho.


não atina o caminho e no entanto caminha.

cada passo esquece o antigo

esquecido que já está do próximo.


das luminárias halos canonizam

intermitente um santo ocasional

- estações de uma paixão inlúcida,

mente santa, corpo em vão.


vai um corpo por bolhas de luz capturado.

em ponte de lume vai deste pra um outro lado.

e quase cai em si quando cai num buraco

que a escuridão escavou.


encravada na luz a treva

de uma lâmpada que se apagou,

o caminhante pressente o caminho

que desde sempre o caminhou:

por cima, ao redor, dentro:

a imensa invisível noite

que habitava o viajor.

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