Um poema - por Ninguém
retorna a rua poética em seu ato criativo singular
AGORA QUE A NOITE GUARDOU O DIA NO VENTRE
e a escuridão tornou azuis os quintais
ronda a tapera um sopro
mormaço noturno e morno
névoa de silêncios ancestrais
dentro da casa a mulher e a menina
ressonam a antiga e mesma caligem
a mulher conhece o nome do invisível
a menina ainda não deu nome ao medo
[a espingarda descansa do dia de caça
o homem descansa do dia de homem
para estes nada na noite se passa]
a menina:
- o que ela quer?
a mulher:
- ela quer que o teu querer queira
a menina:
- ela vai embora?
a mulher:
- ela vai...
vai pitar pau podre
tomar litro de umburana
voar por trás da lua
brechar menina nua
vai kalungar vai kalungar
depois esperam até o silêncio
tornar-se outro silêncio
........................
lá fora o pó úmido se dissipa
dentro enquanto a mulher dorme
a menina sonda com menos medo
outra mais profunda noite