Um poema - por Ninguém

18/09/2020

retorna a rua poética em seu ato criativo singular


AGORA QUE A NOITE GUARDOU O DIA NO VENTRE

e a escuridão tornou azuis os quintais

ronda a tapera um sopro

mormaço noturno e morno

névoa de silêncios ancestrais


dentro da casa a mulher e a menina

ressonam a antiga e mesma caligem

a mulher conhece o nome do invisível

a menina ainda não deu nome ao medo


[a espingarda descansa do dia de caça

o homem descansa do dia de homem

para estes nada na noite se passa]


a menina:

- o que ela quer?


a mulher:

- ela quer que o teu querer queira

a menina:

- ela vai embora?


a mulher:

- ela vai...

vai pitar pau podre

tomar litro de umburana

voar por trás da lua

brechar menina nua

vai kalungar vai kalungar


depois esperam até o silêncio

tornar-se outro silêncio


........................


lá fora o pó úmido se dissipa

dentro enquanto a mulher dorme

a menina sonda com menos medo

outra mais profunda noite

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