Um poema - por Ninguém
31/07/2020
APÓS UM DIA INTEIRO SENDO GOLPEADA
restou da casa o corpo aberto ainda quente
mal deitado à agonia já fria e silente
da noite, feito fosse estátua espedaçada.
a
estranha paz nas sobras da mal demolida
casa não cala a vida ainda latejante
que ali já não se vive: a escada esquecida,
o umbral, meia parede e um josé oscilante.
gestos finais suspensos na ante-sepultura:
a mão petrificada clamando às alturas,
boca no desespero do último ofegar
e o olhar pendente e inútil do santo a velar
o inacabado e pleno estar da arquitetura
das
coisas findas: pedra oculta na escultura.