Preparação do romance

24/09/2021

Por Victor Leandro


Ah, olha, você apareceu! Que bom! Por certo deve ter uma boa razão. Que que houve? Ah, isso, certo, só poderia ser. Uma ideia, que impressionante. E para quê? Um romance. Sim sim. Bom, não acho que deva estimulá-lo, de mim não terá apoio. O que mais tem por aí é gente se arriscando na ficção. Aos montes, principalmente agora que são autopublicados. Contudo, eu sei, você sabe, eles não são lidos. Ninguém nota o que fazem, e assim será com você. De todo modo, conheço-o. É teimoso, não vai ser demovido. Então me diga, qual é o plano, de que tratará seu enredo? O quê? HAHAHA. Que mágico! Quer dizer que abraçou a fórmula gasta e carcomida do decadentismo do homem médio? Calma, calma, deixe que eu adivinho. Aposto que a história vai ser como direi. Professor, meia-idade, envolvido com a escritura de uma obra, tendo de lidar com as banalidades do cotidiano e com relacionamentos frustrados, numa opressão que lhe provoca um abismante bloqueio criativo. É isso? Mas como não! Por óbvio é do que falará, e afirmo mais, você vai se concentrar nos pensamentos mais íntimos da personagem, imaginando que é seu universo interior que encantará o público, ao que no fim será tudo você mesmo, num anódino exercício narcísico. Pois vou advertir logo de saída que não possui matéria que lhe dê qualquer fôlego, uma vez que irá tirar os fatos todos mascarados de sua experiência. Sua narrativa pessoal é mofada, monótona e ridícula, ninguém perderá tempo com ela. Nenhum fato relevante identificável, nenhuma história original que se conte com lágrima ou riso. Você sai da escola para casa, da casa para o bar na sexta, e desse modo fica. No máximo, vai permitir-se confessar alguma anedota de bêbado, mas quem liga agora para isso? Na verdade, não tem mais quem aguente. Ah, vomitou em cima de uma velhinha, e daí?! E daí?! Não não, é certo que lhe está ausente o que se diga. E seus amorezinhos? Uma enxurrada de gente sem graça, que não o suportou apenas por conta de suas pequenezas, veja, não porque era irritante demais, inquieto demais, mas pequeno, discutindo por ninharias, e também mesmo elas eram pessoas medíocres e sem importância, quer tenham gostado de você ou não. Sim sim, você só conhece a mediocridade. Mesmo aquelas que lhe contaram fazer autocrítica e gritaram, somos medíocres, somente nisso tinham razão. São medíocres. Então o máximo que você vai narrar é uma bobagenzinha à toa, algum casinho para o embalo de sonhos juvenis, nada além. Portanto, eu recomendo, faça esse favor à humanidade. Desista. Desista! Volte para seu quarto, e saia de lá apenas quando tiver outro assunto que não seja você mesmo. Que ridículo.


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