Pesadelo Kitsch

13/12/2021

-Não sei, não sei, acho que estava num sonho, coisa do tipo. Você já conhece a minha história, tem uns dois anos que eu ando com essa de borderline, doença-de-borda, enclausurado na faixa, portanto tem vezes que eu piso a linha, ou até, cruzo a linha. Nessa ocasião já não dá para distinguir muito, nem de igual maneira para ligar para você, que no final ainda me vai na farmácia atrás de um medicamento sem receita, o que soa milagre porque o meu acabou, haha, o meu acabou, e é só naqueles caras legais que dá para conseguir algo, um salvamento para os grandes apuros, então é a si quem vai, pois os outros, os outros na realidade são grandes filhos da puta, você sabe, só ajudam de fora para fora, a verdade é essa e não é obrigação deles, todos querem mais que o paciente se foda. Mas também, não teriam como, são imbecis demais idiotas demais mais do que eu e do que você, babacas, babacas, tudo certo. Confirmado está que só às vezes que me importo.

Então, foi isso. Acho que não foi nenhum sonho. Alucinado é possível, sonhando não. Eu levantei do chão e estavam aquelas luzes piscando acima e do lado, mais abaixo dos postes. E era um desenho horrível de plantas que ali pareciam ter sido desenhadas por infantes, rascunhos largados no meio de um monte de ferros retorcidos que brilhavam conforme e contrastando ao lado uma abóbada que era algo como uma fantasia porém mais bem feita, ou pelo menos eu pensava julgá-la com tal crivo. Desse modo, foi que comecei a andar, e as pessoas olhavam para mim e riam só que não era da minha pessoa era delas mesmas pareciam felizes logo da minha parte fiquei achando sou um paspalho somente eu que não consigo rir mas não não era desse jeito elas riam porque estavam acefaladas para ser exato o lobo frontal rompido cada uma com um furo e ao que constava o que estava no buraco da cabeça era um bilhetinho que mandava olharem para a paisagem e sorriam, no que precisavam fotografar e preencher relatórios mandados ninguém tem certeza para onde mas mandavam eram rápidos de qualquer modo não fixavam o olhar em mim eu entrava irrelevante na cena como de costume só que aí, tentei chamá-los. Foi quando alguém me respondeu.

-Isto não é um sonho e começou há poucos dias.

No que eu disse, bem, haverá de ter fim.

Foi nessa hora que a montagem ficou estranha. Porque alguns deles principiaram a cair. Sim, do meu lado. O buraco pequeno em suas testas foi se expandindo, e depois desmoronavam. Da minha parte, você deve imaginar, fiquei com medo, mas tentei ser altruísta. Corri em socorro de alguns deles. Porém ao me aproximar sua gargalhada aumentava e pasmem, pasmem, digo essa palavra para notar o quanto foi inusitado, do imenso buraco em sua cabeça cada uma das pessoas começou a puxar uma corda. Não, não era uma corda e sim um fio, que ia se apresentando como um imenso pisca-pisca que colocavam na boca e funcionava, de modo que aquele pequeno espaço pavoroso de brilho mórbido foi se transformando a praça inteira e eu já não enxergava mais porque não havia caminho apenas a abóbada acima no que procurava ir em sua direção até que ela, até mesmo ela, surgiu radiante soltando fogos de artifício e também uns cavalinhos verdes que comiam as pedras e o asfalto enquanto relinchavam histórias muito antigas.

-E como se safou?

-Ah.

-Pode dizer?

-Creio que sim, uma vez que estou aqui.

-Pois diga.

-Vou lhe contar qual é a real. Eu não me safei, apenas sobrevivi. Um após um, eles foram pondo as mãos nas costas e estas evaporaram em suas mãos, deixando no lugar mínimas formigas. Sim, estavam mortos, e eu não fui um deles. As luzes também se apagaram, e no lugar da grande árvore central brotou uma chuva de moedas e cinzeiros. Foi nesse momento que corri.

-Poderia dizer que ficou realmente louco, mas a verdade é que teve sorte. Nem sempre se pode escapar de figurações desse tipo. Bom que ocorrem em épocas específicas do ano.

-Desse modo,

-Pegue o comprimido.

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