O escritor não tem catarse coletiva
Por Victor Leandro
Funciona exatamente assim. Você escreve, se angustia ou não, troca palavras, pensa no fundo do quarto ou no corredor. Volta, constrói mais uma frase, acredita ter ficado bom. Tempos depois relê, e acha horrível. Modifica o parágrafo e quem sabe a página inteira. Qualquer dia, julga estar pronto, e nem quer olhar mais para não encontrar no que mexer. Faz tudo isso sozinho.
Depois, põe a circular o manuscrito para outras pessoas que, também solitárias, irão trafegar na condução de suas linhas. Podem achar impressionante ou talvez desistir logo no começo. De qualquer modo, o que dirão ou pensarão, muitas vezes, você nunca irá ter conhecimento. É como uma mensagem secreta transmitida entre detetives.
Enquanto isso, em algum outro lugar mais animado, o teatrólogo, o músico, o cineasta, o artista plástico apresentam seus trabalhos pela primeira vez. O público pode entoar o verso junto, bem como imediatamente perguntar o significado do tom azul no canto da tela à frente. Também tem os aplausos que chegam logo, ou mesmo as vaias que dizem ser melhor fazer de novo. Mas a experiência sempre se entrega como conjunta.
Transtornado com a excessiva medida do silêncio, o escritor pensa em realizar sessões de leitura. Porém é patético, não é nada útil. A palavra lida nos confins da mente é a única válida e pulsante. O que há de mais não passa de intervenções de um condenável esboço de adestramento.
Propõe-se aí a calar, a não mais dizer. Se palestra sobre a
obra, não é mais a sua arte que se encontra de imediato em vista. Logo, ele
permanece ermo do início ao término do que perscruta. Está aí o preço da frase
exata. Está aí a caverna de onde só se visitam abismos.