Fragmentos de um desastre amoroso
-Então certo. Como foi?
-Conforme lhe falei.
-Sobre o quê?
-Sobre isso.
-Ah, lembrei. Vocês tinham essa história. Um código para imitar o autor soviético. Só que aquilo foi na Rússia.
-Éramos muito russos. Então não falávamos da coisa, mas sobre isso.
-Que na verdade não foi nada.
-Não foi.
-Nunca é.
-Delírio.
-E o que resta então?
-Nada. Nem mesmo a persistência dolorosa de um epílogo, ou da criação no espaço da ausência. O que foi era de fato um engano, um erro inútil, como são de resto as coisas que ocorrem sob tal registro.
-Mas, e se,
-E se,
-E se tudo voltasse? Se ambos recorressem?
-Ah,
-Ah,
-Bem,
-Então.
-Eu não sei. Na verdade, trata-se de uma patologia, uma doença sem cura. Não temos meios de evitar os sintomas.
-Certo. Então é por eles que aguarda?
-Sim. A catástrofe, por pior que seja, nunca é o bastante.
-ID.