Fragmentos de um desastre amoroso

19/02/2022

-Então certo. Como foi?

-Conforme lhe falei.

-Sobre o quê?

-Sobre isso.

-Ah, lembrei. Vocês tinham essa história. Um código para imitar o autor soviético. Só que aquilo foi na Rússia.

-Éramos muito russos. Então não falávamos da coisa, mas sobre isso.

-Que na verdade não foi nada.

-Não foi.

-Nunca é.

-Delírio.

-E o que resta então?

-Nada. Nem mesmo a persistência dolorosa de um epílogo, ou da criação no espaço da ausência. O que foi era de fato um engano, um erro inútil, como são de resto as coisas que ocorrem sob tal registro.

-Mas, e se,

-E se,

-E se tudo voltasse? Se ambos recorressem?

-Ah,

-Ah,

-Bem,

-Então.

-Eu não sei. Na verdade, trata-se de uma patologia, uma doença sem cura. Não temos meios de evitar os sintomas.

-Certo. Então é por eles que aguarda?

-Sim. A catástrofe, por pior que seja, nunca é o bastante.

-ID.

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