Crônica: A música e as memórias, por Miller Brito
O desejo de contemplar o amanhecer me fez ficar acordado até agora. É
verdade que a forte virose não me deixaria dormir tão facilmente. Sem café, com
música. The Waking Eye - Leaves' Eyes. Não sei o que diz a música, mas ela dialoga
com a minha alma.
Enquanto escrevo e ouço, lembro de sábado passado. Meu primo Castro me convidou para acompanha-lo a um criatório de patos, pois ele pretendia adquirir alguns filhotes. Para que a lenda do Ruy Barbosa não venha assombrar o meu primo, creio que é bom não mencionar nenhum tipo de endereço nesta breve crônica. Embora eu saiba que alguns conhecidos falarão que o Finote conhece o quintal. Os galos começam a cantar. Cachorros ladram. A chuva chega para purificar o dia.
Invista um pouco do seu tempo e reflita sobre a sua relação com a música. É tão bonito ver o dia nascer. Confesso que é o momento em que deixo de ser realista e encaro a vida com otimismo. Voltamos ao assunto do título. Depois da aquisição dos patos, fiquei lá pela casa do Castro durante toda a tarde. Talvez as doses de cachaça tenham ajudado no diálogo sobre a importância da música em nossas vidas. É interessante ouvir as pessoas comentando sobre. A cada fase da vida ela vai se ressignificando, tornando-se um portal para os saudosistas.
Comentei sobre a importância da música na minha vida. Ela guarda todo o meu acervo de memórias. Ouço Reginaldo Rossi e lembro da minha infância, a fase em que comecei a armazenar as lembranças com mais clareza. Lembro até hoje da minha inocência quando escutava Lá Vai Ele - Alípio Martins. A música não me permite o esquecimento. Dia purificado, sol raiando, sono chegando. Sem café. Tá muito cedo para uma dose de cachaça.
A música influencia as suas memórias?