A cidade e seus cúmplices, por Victor Leandro

08/08/2020

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João colou mais um papel na parede descascada. Estavam na escadaria dos remédios.

Eram uns versos sobre a solidão e as esquinas, o trabalho e a escrita. Achava lícito falar sobre esses assuntos também. Não admitia nunca qualquer censura ou restrição. Para tratar da condição humana, tinham sempre o direito.

Como igualmente o de pregar palavras nos muros de uma igreja. Ou no teatro, ou no meio da praça. Assim, davam um furor ativo à cidade, que era não a somatória dos prédios e sim das pessoas presentes. São elas que fazem tudo existir. Era disso que sabiam, e por esse motivo se punham a ser artistas e não parcos escreventes.

Um carro patrulha passou. O guarda viu-os de máscara, mas não os considerara suspeitos. O acessório tornou-se algo comum esses tempos.

Do que não era, estava ali a sua persistência tenaz, a desenhar outras metáforas em linhas imprecisas. O fluxo do nada mais que o da consciência. A noite, como um farol quase apagado, tremeluzia. Inebriados da imagem, eles seguiram adiante. Nada lhes era mais caro do que essa rua infinda.

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