A cidade e seus cúmplices, por Victor Leandro
04/07/2020
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Então chegou. Estava no portão do Tadros.
-Onde está Seu Luíz?
-Morreu do vírus.
-E Dona Vilma?
-Internou. Mas está melhor.
-É impossível entrar aí ainda.
-Nada. Já saí do período. Confie.
-Eu não.
-E o que faremos?
-Você vem aqui fora e falamos de longe. Se é que tem ânimo.
-Isso já tem um mês. Fiz meu luto.
-Precisa sair.
-Sim.
Pararam na esquina, abraçaram-se entre os olhos. Pensaram em assuntos mórbidos e estranhos. As lágrimas correram em discreto percurso.
-Não importa o que façamos, a vida corre indiferente. Não tem pausa, só um contínuo. Escrever um verso é nossa maneira de perturbar esse silêncio.
E, mantendo a devida distância, seguiram ambos pela avenida
à frente.