A cidade e seus cúmplices, por Victor Leandro

27/06/2020

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Uma palavra econômica, economizar. A pernada ou o ônibus? O sol hoje tem clemência. Escolhe vagar, porém com moderação. Não dá para dizer que será um caminho curto. Do Educandos ao centro, existe uma ponte e mais que uma rua.

É bonito atravessar a ilha Caxangá. Não se imagina como os ricos nos deixaram isso aqui. Dizem que não aguentaram o cheiro de suas próprias latrinas. Pouco importa. Os passos de João andam em ritmo regulado, o olhar um tanto cansado e absorto, pensando nos acumulados de trabalhadores movidos a álcool que carregam mercadorias. A vida é dura demais para suportar desentorpecido. Também as dores nas costas. Igualmente a angústia do vírus.

Lembrou-se, então, que vinha escrevendo os poemas, no entanto nenhum para falar deles. Um fracassado artista político. Já havia tentado algumas vezes, sem fazer nada digno do mundo social. Só vontade, só ímpeto. Cada qual que conviva com seus limites.

Sentou-se, pediu uma água. Lá se foi o guardado do transporte. Olhou para o teatro-usina e para o movimento do rio. Tudo rumava no seu administrado movimento intranquilo.

Uma venezuelana o tirou do transe. Deu a ela duas moedas. Lentamente, a chuva chegava.

Desapressado, retomou a caminhada entre os pingos.

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